Enchentes: geólogo divulga alternativas disseminadas e de baixo custo

Enchentes: geólogo divulga alternativas disseminadas e de baixo custo

Há 20 anos o sofrimento se repete

As vitrines e estantes com produtos ficam suspensas, em uma altura em que a água não chega. “Mas, mesmo assim, a gente fica com água até o joelho, cheiro ruim, ratos. Aconteceu antes do Natal, antes do Ano Novo e em janeiro”, diz ela.

Este é o depoimento de uma comerciante do Tremembé, na zona norte de São Paulo, publicado, na Folha desta quinta (6).  Há 20 anos ela sofre com o problema, que pontualmente comparece a cada verão. Só neste ano  já foram três vezes.

A paralisia de 17 obras é apontada como a causa de inúmeros problemas como o citado, que todos os anos, e previsivelmente, ocorrem em diversas regiões da cidade, trazendo devastadores prejuízos, quando não tragédias e perdas de vida:

Perto dali, a canalização do córrego Tremembé, que passa ao lado da loja, está parada devido a questões burocráticas. Quase 400 metros de obras ao longo do curso d’água ficaram inacabados devido a desapropriações que não foram concluídas.

A situação não é exceção. Obras municipais importantes para resolver problemas crônicos de várias regiões paulistanas vêm se arrastando por vários anos e gestões, por motivos que vão de problemas burocráticos a efeitos da crise econômica.

A cidade tem ao menos 17 grandes obras de drenagem, de acordo com dados da Siurb (Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras). Se dependesse de previsões da atual gestão, do PSDB, ou da anterior, do PT, ao menos 14 delas já estariam prontas.

Geólogo propõe alternativas disseminadas e de baixo custo

De acordo com o geólogo e consultor Álvaro Rodrigues dos Santos, que já foi diretor do IPT e tem diversos artigos e livros publicados onde a prevenção de enchentes é tema recorrente, o problema das enchentes urbanas somente será equacionado com a adoção de medidas voltadas a aumentar a capacidade do espaço urbano em reter águas de chuva. São medidas indispensáveis que deverão ser implementadas complementarmente às medidas ditas estruturais, aquelas voltadas a aumentar a capacidade de vazão do sistema urbano de drenagem. Ou seja, ou conseguimos reduzir o volume de águas de chuva que a cidade impermeabilizada lança sobre o sistema de drenagem, ou não haverá solução viável para o problema.

As medidas estruturais, como as citadas na reportagem da Folha, consistem em investimentos em grandes obras de engenharia que garantam o escoamento da água de chuva de forma a não se acumular na superfície urbana, causando assim os alagamentos. Os exemplos mais frequentes são canalizações, ampliações, aprofundamento e desassoreamento de calhas naturais de escoamento como córregos e rios, e os piscinões, grandes reservatórios que servem para represar e impedir que as águas pluviais se acumulem na superfície.

Proposta: medidas não estruturais

De maneira a contornar a burocracia, os altos custos envolvidos, e também os impactos ambientais e sanitários das obras estruturais, o geólogo acaba de divulgar e disponibilizar publicamente um powerpoint em que propõe uma série de medidas mais baratas e mais livres de entraves burocráticos, portanto de aplicação mais imediata. Seu foco é absorver localmente a água da chuva, evitando assim  que sobrecarreguem as redes de escoamento pluviais :

[Medidas não estruturais são] aquelas que agem sobre o tecido urbano com o objetivo de reduzir o efeito das causas do aumento das águas superficiais de escoamento e da redução da capacidade de vazão da rede de drenagem natural e construída. Normalmente implicam em intervenções disseminadas de pequeno porte e baixo custo.

Um dos slides resume as propostas dentro da vertente não estrutural:

EXPEDIENTES E MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS VOLTADOS AO COMBATE ÀS ENCHENTES URBANAS

  • RESERVATÓRIOS DOMÉSTICOS E EMPRESARIAIS DE ACUMULAÇÃO/INFILTRAÇÃO DE ÁGUAS DE CHUVA – POÇOS E TRINCHEIRAS DE ACUMULAÇÃO/INFILTRAÇÃO
  • DISSEMINAÇÃO DE BOSQUES FLORESTADOS
  • PISOS DRENANTES EM ESTACIONAMENTOS, PÁTIOS, ETC.
  • VALETAS/SARGETAS DRENANTES DE ACUMULAÇÃO E INFILTRAÇÃO
  • CALÇADAS COM PISO DRENANTE E CANTEIROS
  • REDUÇÃO DO ASSOREAMENTO DAS DRENAGENS VIA COMBATE À EROSÃO E AO LANÇAMENTO IRREGULAR DE LIXO E ENTULHO DE CONSTRUÇÃO CIVIL
  • ABANDONO DA PRÁTICA DE CANALIZAÇÃO E RETIFICAÇÃO DE CÓRREGOS
  • DESESTÍMULO AO CRESCIMENTO URBANO POR ESPRAIAMENTO GEOGRÁFICO


É enfatizada a necessidade da implementação em conjunto destas medidas, sem o que, “nunca se poderá esperar qualquer sucesso de programas de combate às enchentes urbanas”.

83 slides

A apresentação disponibiliza 83 slides com dados, explicações técnicas, e ainda fotos e diagramas com exemplos de intervenções locais para se evitar alagamentos, muitas delas caseiras.

Baixar o powerpoint => MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS DE COMBATE ÀS ENCHENTES URBANAS