Razões para a venda de Interlagos postas em dúvida

“A era do pós mentira”. Sob este título, o jornalista Flavio Gomes, em seu blog especializado em automobilismo e Fórmula 1, coloca em dúvida as razões apresentadas pelo prefeito João Doria para a venda do Autódromo de Interlagos.

Menciona entrevista dada à Reuters pelo prefeito, na qual “Reafirmou que vai vender o autódromo, garantiu que a iniciativa privada terá enorme interesse no equipamento, disse que lá serão feitos prédios “de luxo”, hotel “de luxo” e museu “com o nome de Senna”, e que a permanência da F-1 em São Paulo será garantida com a privatização do circuito. E afirmou que Bernie Ecclestone vai participar do leilão — que é uma ficção, não há edital, estudos de viabilidade, planos concretos, nada. Aliás, falou sem autorização em nome de Bernie, que em nenhum momento confirmou seu interesse em participar do leilão que não existe. Previu também que o Liberty Media Group, que comprou a F-1, vai se interessar. A capacidade de adivinhar o futuro, pelo jeito, é uma das qualidades do prefeito”.

E prossegue: “Bernie, 86, compraria Interlagos para fazer o quê com o autódromo, exatamente? Quantos anos ele levaria para cumprir o roteiro imaginado por Doria, construir seus prédios, hotéis e museu? Quem se hospedaria no distante bairro de Interlagos num hotel de luxo? Quem estaria disposto a morar dentro do autódromo em prédios de luxo? Quem bancaria a construção de um museu de carros de corrida, empreendimento fadado ao fracasso comercial? Quem disse para ele que os caras do Liberty têm interesse em comprar autódromos?”.

Lembra ainda que o GP do Brasil  “já é realizado pela iniciativa privada — os promotores da corrida –, num equipamento público. Como o Lollapalooza, como os jogos no Pacaembu, como o desfile das escolas de samba no Anhembi, como qualquer corrida de pedestrianismo pelas ruas da cidade, como qualquer show no Ibirapuera, como a São Silvestre, como uma peça no Teatro Municipal. São atividades privadas realizadas em parceria com o poder público, e em alguns casos o poder público entra com dinheiro ou com seus equipamentos, seu patrimônio físico, porque é do interesse da cidade receber eventos culturais, musicais e esportivos”.

{…} “No caso específico da F-1, a Prefeitura aluga o autódromo, recebe por isso, e gasta uma grana preta para montar arquibancadas provisórias e viabilizar a prova — algo que sempre combati, mas a justificativa sempre foi a mesma: o GP traz muito dinheiro para a cidade, o gasto compensa.Ah, mas o autódromo tem custo, precisa de obras, de manutenção, vive em reformas. Sim, e no ano passado, com tudo isso, deu lucro. E as obras são necessárias, porque é um equipamento público, e cabe ao poder público cuidar dele, como cuidar das ruas — usadas por carros particulares –, dos hospitais, das escolas, dos parques, de suas obrigações com… o público. É para isso que pagamos impostos, para que o poder público cuide daquilo que a população usufrui”.

Ver na íntegra: A ERA DA PÓS-MENTIRA | Blog do Flavio Gomes | F1, Automobilismo e Esporte em geral