Jeffrey Sachs e a era do desenvolvimento sustentável

Jeffrey Sachs e as transformações necessárias para atingir o desenvolvimento sustentável

Jeffrey Sachs, o desenvolvimento sustentável, e a engenharia

Jeffrey Sachs, economista americano que se dedica ao estudo dos impactos originados pelas mudanças climáticas associadas ao aquecimento global no desenvolvimento sócio-econômico, deu recentemente uma palestra sobre desenvolvimento sustentável na FAPESP.

Sachs chefia o Instituto da Terra (Earth Institute) da Universidade de Columbia, em Nova York,  e é também reconhecido mundialmente como uma liderança no combate às desigualdades sociais e regionais.

Sua importância é destacada pela Agência FAPESP:

“Sachs está à frente de discussões sobre liderança em desenvolvimento sustentável há décadas, sendo considerado, inclusive, uma das forças motrizes por trás da criação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, plano que antecedeu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (SDGs). “Tínhamos cerca de 300 objetivos que concentramos em 17”, disse.”

Em sua exposição, reproduzida no vídeo abaixo, argumentou que os impactos climáticos causados pelo homem estão suficientemente comprovados pela ciência. O necessário, agora, seria implementar ações no sentido de que seja mitigado de maneira a evitar tragédias que seriam sem precedentes na história da humanidade.

Para que isso se efetive considera fundamental o papel da engenharia, que, dada a sua função básica de aplicar conhecimento teórico à produção física, seria fundamental para a implementação das transformações necessárias.

5 grandes transformações

De maneira a transformar diagnósticos teóricos em propostas de ação, Jeffrey Sachs, a partir dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, propõe grandes transformações em cinco áreas, como descrito a seguir.

Energia – A geração de energia deverá estar livre de combustíveis à base de carbono, petróleo, carvão e gás natural, até 2050. Isto num mundo dominado por estes combustíveis, que hoje somam mais de 80% do consumo global. Esta é a dimensão do desafio colocado pelo Acordo de Paris.

Uso sustentável do solo – A produção de alimentos para a população mundial não é, segundo ele, um problema resolvido. Chama a atenção para a importância do Brasil neste caso, dada a sua liderança na produção mundial de alimentos. Soluções precisam ser encontradas para os severos impactos ambientais a ela associados, que, entre outros, como a escassez de água e a degradação do solo, é a atividade que mais produz gases do efeito estufa.

Cidades sustentáveis – Como adicionar mais bilhões de habitantes nas cidades observando inclusão e qualidade de vida digna para estas pessoas. O desafio envolve planejamento urbano, manejo do meio ambiente, infraestrutura de transporte, água, esgoto, energia, etc. Aposta no transporte elétrico, com possível exceção do Brasil devido aos programas de bio-combustíveis.

Qualidade dos serviços públicos, principalmente saúde e educação – Considera este como provavelmente o desafio mais fácil. Classifica os sistemas educacionais ao redor do mundo como maus no momento. Crianças não estão aprendendo, chegando ao final do ensino fundamental sem saber ler e sem saber matemática, inclusive em países de alta renda.

Criar instituições para inovação – Estamos em um período que exige massiva transformação tecnológica, e é necessário trabalhar por uma sociedade inovadora. Mesmo nos Estados Unidos isto só se verifica em algumas regiões como na Califórnia, em Nova York e na Carolina do Norte. Curioso observar que associa estas regiões inovadoras com os eleitores da Hillary Clinton, e as demais com os eleitores de Donald Trump. O Brasil corre o risco de se tornar altamente dependente em inovações como carros elétricos chineses e da Google, o que não é nada desejável.

Mercado ainda tem seu papel, mas decididamente vivemos em uma era de planejamento

Importante destacar que, ao final de sua palestra, o economista deixou clara a sua visão de que, sem a lógica de mercado dar lugar para o planejamento, as transformações não acontecerão.

Segundo ele, os países desenvolvidos não podem mais ser tomados como exemplos a seguir, e não se pode esperar que as forças de mercado levem, por si só, ao desenvolvimento sustentável, que, essencialmente, é um problema de planejamento.

Afirmativas que não deixam de ser extremamente ousadas para quem leciona nos EUA, campeão da liberdade de mercado, mormente em uma época de ofensiva neo-liberal em escala mundial.

Ver o vídeo

Links:

Jeffrey Sachs defende cinco grandes transformações lideradas pelas universidades

Talk by Jeffrey Sachs – FAPESP