Parque do Ibirapuera, 21/08/1954: a inauguração mais festejada da história da cidade

Se formos ao site www.dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br, buscar por “Ibirapuera”, e depois clicar em “Parque do Ibirapuera”, nos deparamos com um texto sobre a história do logradouro desde finais do século XIX. Foi a partir daí que suas terras passaram a integrar o perímetro municipal, sendo que em 1918 foi loteada por iniciativa do prefeito Washington Luís:

“Em 1890, as terras do Ibirapuera eram consideradas devolutas. No ano de 1916, com o Decreto Estadual n° 2.669, os terrenos que faziam parte do antigo rossio da cidade, conhecido também como Várzea de Santo Amaro ou Várzea do Ibirapuera, passaram a compor o perímetro municipal.  Antes da primeira menção de construção do parque, o Prefeito Washington Luís propôs a divisão em lotes de um área de 993.630 m² na Várzea do Ibirapuera, no intuito de desenvolver os arredores. O loteamento de 1918 dá origem, hoje, ao Bairro Jardim Lusitana”.

Surge a idéia do Parque

A idéia do parque surge em 1926, com o prefeito José Pires do Rio, que introduziu também sua primeira proposta urbanística, juntamente com um plano de integração com o sistema vário da cidade, contando para isso com a assessoria do seu secretário de Viação e Obras Públicas, Francisco Prestes Maia:

“Em 1926, assume a Prefeitura de São Paulo, José Pires do Rio e junto com ele a intenção em construir um parque em “pleno coração da cidade”. Em seu relatório anual, descreve com entusiasmo a localização estratégica do novo parque e a sua importância quanto a higiene da população urbana. “Situados na planície que começa no sopé da collina da avenida Paulista, e fica entre o fim da rua Brigadeiro Luiz Antônio, a Estrada de Santo Amaro, o corrego Uberaba, a cuja a margem esquerda fica Indianópolis, limitados pela Vila Clementino e Vila Mariana, esses terrenos da Invernada dos Bombeiros e da Chácara Ibirapuera se prestam, admiravelmente, a cosntrucção de um immenso jardim ou parque, com área igual a do Hyde Park de Londres, igual a metade do Bois de Boulogne, de Paris.” Durante todo seu mandato de Prefeito, Pires do Rio desempenhou-se na aquisição de terras e na construção do parque. Sendo as principais atividades destinadas ao viveiro de plantas municipal, transferido para a área em 1928″.

Prestes Maia e a primeira proposta urbanística

“Em 1929 é identificada a primeira proposta urbanística para o Parque Municipal sito na Várzea do Ibirapuera, de autoria do arquiteto-paisagista Reinaldo Dierberger, que buscou a perfeição estética e artística que um parque popular poderia oferecer, propondo extensos gramados e jardins, articulados por caminhos, criando variadas perspectivas, além de propor edifícios destinados ao lazer e esporte. Ainda no mandado de Pires do Rio foi organizado e publicado pelo mesmo o Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo, idealizado pelo então engenheiro da Secretaria de Viação e Obras Públicas, Francisco Prestes Maia. O plano ressalta diretrizes para o Parque do Ibirapuera que deveria ter duas seções, separadas pelas construções e arruamentos do loteamento lançado em 1918”.

Primeiro projeto para o Parque aprovado em plena Revolução Constitucionalista

“Mas é com o Prefeito Goffredo Teixeira da Silva Teles que surge o primeiro projeto para o Parque aprovado pelo Ato n° 378 de 29/07/1932, que previu a substituição do Hipódromo da Moóca para os terrenos do Ibirapuera, aprovado na Lei n° 3.256 de 21 de janeiro de 1929. O Autor deste projeto é o mesmo Reinaldo Dierberger da proposta de 1929. O projeto concentra-se na disposição de atividades de esporte, diversão e cultura, dentro do conjunto de logradouros, bosque, passeios, ruas, caminhos, lagos e avenidas, deixando clara a instalação da hípica. Em 1933, os engenheiros da 7° Seção Técnica da Divisão Obras e Viação do Município providenciaram um novo estudo para o parque que respeitasse as delegações da Repartição de Águas e Esgoto. Com memorial escrito pelo Eng. Marcial Fleury de Oliveira, o novo projeto é aprovado pelo Ato n°459 de 11 de maio de 1934, como revisão do projeto do Parque Ibirapuera. O projeto respeitou as obras já em andamento do parque, considerando as propriedades da Prefeitura destinadas ao parque e propondo um conjunto principal com piscina, cassino, praça circular e jardim de rosas”.

Seis anos de preparativos

Em 1948, se iniciam os preparativos para a comemoração dos 400 anos da cidade que se deu em 1954. Por sugestão de Francisco Matarazzo Sobrinho, em 1951, antevendo que a cidade se desenvolveria para o lado do Ibirapuera, o Parque foi selecionado para o local central das comemorações, desbancando Interlagos, a Cidade Universitária e a Marginal Pinheiros.

“Os preparativos para a festividade dos 400 anos da cidade de São Paulo começaram a se articular já no ano de 1948, quando foi instituída a Comissão dos Festejos do IV Centenário da Cidade de São Paulo. De 1948 a 1951 vários decretos moldavam a comissão que, diante das diversas responsabilidades, tinha como uma das mais importantes determinar o local dos acontecimentos da festividade. O local das comemorações tinham como possibilidades: Interlagos, Cidade Universitária, Marginal Pinheiros e Parque do Ibirapuera. A escolha da região do parque partiu de Francisco Matarazzo Sobrinho, em 1951, por acreditar que a cidade se desenvolveria para o lado do Ibirapuera”.

Dois projetos de arquitetura

Com isso, o Ibirapuera ganha prestígio e visibilidade, e passa a ser objeto de dois projetos de arquitetura, visando a execução de obras que, após os festejos, passariam a incorporar o patrimônio da cidade. O primeiro, conduzido por uma equipe contratada em 1951, foi organizado em três etapas, sendo que, no entanto, só a primeira foi finalizada:

“Christiano Stockler das Neves, membro da Sub-Comissão Municipal de Obras e Urbanismo, formada para os festejos do IV Centenário, apresentou uma proposta para o parque composta de “arte, majestade e finesse do jardim francês, com a graça e encanto do jardim italiano e com o pitoresco do jardim inglês”. No final de setembro de 1951, o Presidente da Comissão, Francisco Matarazzo decide, com o apoio do Governador do Estado e do Prefeito de São Paulo, contratar os serviços de uma equipe de arquitetos paulistanos, certo do ideal que “São Paulo tem que comemorar o IV Centenário com cimento armado e concreto.” Esta equipe, intitulada Equipe de Planejamento, era formada pelos arquitetos Alfredo Giglio (Diretor do Departamento de Arquitetura da Prefeitura Municipal), Carlos Alberto Gomes Cardim Filho (Diretor do Departamento de Urbanismo da Prefeitura Municipal), Carlos Brasil Lodi, Eduardo Knesse de Mello, Icaro de Castro Mello, Roberto Cerqueira Cesar, Rino Levi e Oswaldo Arthur Bratke”.

“Os estudos destes arquitetos estavam orientados para criar em São Paulo um conjunto urbanístico, arquitetônico, recreativo, paisagístico e esportivo, sendo as obras de cunho definitivo incorporadas ao patrimônio da cidade, vislumbrando um futuro ponto turístico como marco comemorativo do IV Centenário. Dividido em três etapas: Plano de Conjunto; Projeto das Unidades; e Execução das Obras, apenas a primeira etapa foi realizada pela Equipe”.

Anúncio de prmeira pg do Estadão de 21/8/54, data da inauguração da Exposição do IV Centenário.
Anúncio de prmeira pg do Estado e da Folha da Manhã de 21/8/54, data da inauguração da Exposição do IV Centenário.

Oscar Niemeyer assume

Uma nova equipe foi então contratada em 1952, sob supervisão do arquiteto Oscar Niemeyer, que após diversas reformulações, levou o Parque para o formato que permanece até hoje:

“Desvinculada a atuação da Equipe de Planejamento, Francisco Matarazzo convida o arquiteto Oscar Niemeyer a elaborar o projeto do Parque. O arquiteto e sua equipe, composta por Hélio Uchoa Cavalcante, Eduardo Kneese de Mello e Zenon Lotufo e os colaboradores Gaus Estelita e Carlos Lemos, aceitam o convite, iniciando os estudos para a construção do parque no ano de 1952. A primeira proposta apresenta o projeto do Parque e de cada edificação permanente, com técnicas modernas de construção que consolidam “idéias puras e exatas.” A demolição de alguns edifícios após as comemorações, incluindo a marquise, inviabilizou este projeto.”

“[…] Na revisão do projeto, o arquiteto abandona o partido arquitetônico de todos os Palácios, menos do Palácio da Agricultura. O conjunto arquitetônico de entrada continua o mesmo, apenas o edifício do planetário passa a ser destinado a outro uso, sendo chamado de Pavilhão de Exposição. A proposta do Restaurante é abandonada. A marquise diminui de tamanho e forma, passando a ser uma construção permanente. Mesmo com a revisão a pedido da comissão, o Auditório e a Entrada Principal não foram construídos por falta de verba. Foi este conjunto proposto por Niemeyer e sua equipe, unidos a outros projetos, que formaram em 1954 o Parque do Ibirapuera em comemoração ao IV Centenário da Cidade de São Paulo e que permanece até a atualidade”.

Parque Ibirapuera é inaugurado junto com a Exposição do IV Centenário:  “apitos de todas as fábricas e repiques de sinos de todas as igrejas”

As novas instalações  do “Mais Moderno Logradouro Público do Mundo” foram inauguradas no dia 21 de agosto de 1954, um sábado, juntamente com a Exposição do IV Centenário, às 11 horas. Como publicaram o Estado e a Folha da Manhã do mesmo dia, em meio a “apitos de todas as fábricas e repiques de sinos de todas as igrejas”, e inúmeros outros eventos políticos, religiosos e culturais que tomaram todo o sábado e o domingo, no que tenha sido possivelmente o mais festejado acontecimento da história da cidade.

Links: Arquivo Histórico de São Paulo Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente – Ibirapuera.