Demolições na Cracolândia preocupam arquitetos e historiadores

O bairro dos Campos Elíseos, ou ainda Campos Elísios (com i), onde se situa a cracolândia, é reconhecidamente o primeiro bairro projetado de São Paulo graças à iniciativa de dois imigrantes, os arquitetos Frederico Glette e Victor Nothmann, que deram nome a duas de suas principais alamedas. A Wikipidia, por exemplo, registra que

“O bairro dos Campos Elísios foi idealizado e loteado por empresários suíços no fim do século XIX, em 1878, notadamente pelo suíço Frederico Glete e o alemão Victor Nothmann, que adquiriram antiga chácara e a lotearam”.

E ainda

“A localização era privilegiada: próximo da Estação Sorocabana, inaugurada em 1878 (atual estação Estação Júlio Prestes) e da Estação da Luz e, ao mesmo tempo, não muito longe do centro da cidade, os espaçosos terrenos do loteamento eram ideais para abrigar as mansões e residências dos barões do café quando vinham à capital a negócios. […]No início do século XX, os Campos Elísios eram um bairro bastante elegante, abrigando as mansões e residências dos barões do café e a residência oficial do Presidente do Estado de São Paulo (atual governador do Estado): o Palácio dos Campos Elísios, na Avenida Rio Branco, uma de suas vias mais importantes”.

Boa parte deste patrimônio ainda está de pé, em alguns casos semi-abandonado, em outros restaurado por empresas que operam na região. Não surpreende, portanto, a preocupação de pesquisadores e profissionais dedicados ao estudo do bairro e de sua história, com os repetidos anúncios de demolições na área, agora renovados pela nova administração municipal, o que pode significar a destruição de importante acervo histórico da cidade.

Reportagem publicada neste domingo (3/6) no jornal O Estado de São Paulo, Prédios tombados na Cracolândia expõem declínio de Campos Elísios, relata que

“Apenas no quadrilátero da Cracolândia original – entre a Rua Helvétia e as Alamedas Cleveland, Glete e Barão do Piracicaba, no bairro dos Campos Elísios -, 17 endereços são tombados, desde 2013, pelo Condephaat, o órgão estadual de proteção ao patrimônio, e os mesmos imóveis constam de processo em tramitação no Conpresp, o correlato órgão municipal”.

Cita também, entre outras, a preocupação da ex-presidente do Conpresp, arquiteta Nadia Somekh:

“Não adianta fazer grandes investimentos sem ter uma visão global”, defende. “É preciso articular programas sociais e desenvolvimento imobiliário. Não é possível resolver um projeto urbanístico em quatro anos. Isso pode ser devastador para a memória da cidade.”