Cães de rua

USP: cães urbanos podem portar leptospirose

O Jornal da USP informa:

Pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP sugere que cães podem estar participando da cadeia de transmissão da leptospirose em grandes centros urbanos. O estudo foi realizado pelo médico veterinário Bruno Alonso Miotto e teve o objetivo de avaliar a presença de cães infectados com leptospiras (bactéria causadora da doença) em três populações de animais (errantes, de um canil e de dois abrigos) nos municípios de São Paulo e Mogi das Cruzes.

A bactéria, transmitida através da urina de mamíferos infectados, foi encontrada pelo veterinário nas três populações avaliadas. Um dos achados inéditos é que, pela primeira vez, os pesquisadores detectaram cães infectados com a Leptospira santarosai, espécie somente encontrada, até então, em animais silvestres ou de criação, como búfalos, ovelhas e vacas.

Transmissão ocorre via contato direto com a urina ou água contaminada

De acordo com Miotto, existem mais de 260 tipos de leptospiras que infectam mamíferos e cada um costuma se adaptar aos seus respectivos hospedeiros. A transmissão ocorre via contato direto com a urina ou água contaminada, como as de enchentes. A bactéria penetra através de mucosas (ao coçar os olhos, por exemplo), de ferimentos ou quando a pele está fragilizada devido ao contato excessivo com a umidade e a água. A leptospirose se apresenta nas formas sintomática ou assintomática mas, nos dois casos, pode haver transmissão. Os sintomas, que se confundem com outras doenças, vão desde dor de cabeça, dor muscular e febre, até hemorragia pulmonar, falência geral de órgãos e, nos casos mais graves, pode provocar a morte. “Os cães portadores não apresentam nenhum sintoma ou alteração laboratorial, mas ainda assim podem eliminar a bactéria pela urina por longos períodos de tempo, configurando o cão como importante fonte de infecção”, destaca o pesquisador. O tratamento é feito com antibióticos.

Diagnóstico complexo pode comprometer adoção

O problema, segundo o veterinário, é que, quando um animal é colocado para a adoção, não existe nenhum exame específico, rápido e prático que identifique se existe a bactéria em amostras de urina de animais aparentemente saudáveis. “Eu dispus de condições de fazer essa avaliação porque tive acesso a um laboratório com reagentes caros que foram financiados por meio de uma bolsa de estudos. Mas, em termos práticos, essa técnica não é aplicável no cotidiano de um canil”, lamenta.

Para o pesquisador, é preciso desenvolver novos protocolos de tratamento que sejam seguros, práticos e que não promovam o desenvolvimento de resistência bacteriana, mas que, ainda assim, possam prevenir a adoção de cães portadores da bactéria leptospira, já que o diagnóstico de animais nestas condições depende de técnicas pouco disponíveis e caras.

=> Ver a matéria na íntegra: Cães de centros urbanos também estão suscetíveis à leptospirose