De um total de 65 medicamentos analisados dois demonstraram capacidade de inibição seletiva do vírus
O Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB/USP) está testando 65 medicamentos disponíveis no mercado para verificar sua eficácia na prevenção ou no tratamento da COVID-19. Os primeiros resultados do trabalho foram publicados no Jornal da USP, e, pelo menos por enquanto, não são favoráveis a dois vermífugos que têm sido apontados “como possíveis curas”. Outros dois medicamentos, por outro lado, registraram resultados favoráveis:
De um total de 65 medicamentos analisados, dois demonstraram capacidade de inibição seletiva do vírus SARS-CoV-2 in vitro. Por outro lado, dois vermífugos que vêm sendo amplamente apontados como possíveis curas para a covid-19 (ivermectina e nitazoxanida) não tiveram desempenho satisfatório.
Redirecionar uma droga existente para um novo uso não é tarefa simples
De acordo com a matéria, embora seja mais fácil redirecionar uma droga já existente para um novo uso, em vez de começar do zero, consideráveis desafios têm que ser vencidos até que se atinja o objetivo final, o que inclusive não é garantido, pois “as dosagens podem ser diferentes, o perfil clínico dos pacientes pode ser diferente, as interações medicamentosas podem ser diferentes, e assim por diante.”
Os resultados são apresentados como somente os primeiros passos de uma longa caminhada.
Problemas com a ivermectina e a nitazoxanida
Segundo os pesquisadores, tanto a ivermectina, quanto a nitazoxanida, demonstraram, em testes de laboratório (“in vitro”), possuir atividade antiviral mas não seletiva, pois eliminaram junto com o vírus as células que os hospedavam, o que é um impeditivo para testes com humanos:
Já a ivermectina e a nitazoxanida mostraram ter atividade antiviral in vitro, porém não seletiva. Em outras palavras: elas eliminaram o vírus das amostras, mas também mataram as células — um resultado que, segundo parâmetros modernos de descoberta de drogas, não as favorece como candidatas para ensaios clínicos em seres humanos, ou mesmo para testes pré-clínicos em modelos animais, segundo os pesquisadores.
A reportagem chama ainda a atenção para um alerta da Anvisa sobre o uso da Ivermectina contra a covid-19:
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma “nota de esclarecimento” na sexta-feira, 10 de julho, pontuando que não há nenhum estudo que corrobore o uso da ivermectina contra a covid-19, e que o medicamento só deve ser usado conforme as indicações da bula.
São citados ainda outras instituições que colocaram dúvidas sobre o uso da droga no combate ao Coronavírus e também em resultados atestando sua efetividade. Mas também são citados outros testes em andamento no Brasil que podem elucidar melhor sua real eficácia:
Segundo o mais recente boletim da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), até o início de julho havia quatro ensaios clínicos aprovados com ivermectina no Brasil e três com a nitazoxanida. Esses estudos, realizados de forma controlada, poderão elucidar se essas drogas realmente funcionam e são seguras para uso contra a covid-19.
Substâncias consideradas mais promissoras não são populares na mídia
As duas substâncias consideradas mais promissoras, brequinar e acetato de abiraterona, até agora não têm sido populares na mídia:
A substância mais promissora identificada no estudo foi o brequinar, uma molécula que não está no mercado, mas é bem conhecida da indústria farmacêutica e vem sendo testada para diversas aplicações já há algum tempo, inclusive como antitumoral e antiviral. A segunda mais eficaz foi o acetato de abiraterona, um antitumoral usado no tratamento do câncer de próstata.
A matéria publicada no Jornal da USP é rica em detalhes, inclusive no que diz respeito ao aspecto técnico, contendo esclarecimentos dos pesquisadores.
=> Pesquisa reprova vermífugos e revela novos candidatos a terapia contra covid-19
(Jornal da USP 13/07/2020)
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