DA AGÊNCIA FAPESP
Karina Toledo | Agência FAPESP – Dados preliminares de um estudo coordenado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugerem que apenas 1,2% dos mais de 700 mil moradores de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, já foram infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
“Esses resultados mostram que a taxa de contágio ainda é baixa na cidade e, portanto, há uma grande parcela da população suscetível ao vírus. E isso reforça a necessidade de manter o isolamento social até haver outras medidas para evitar o avanço da epidemia”, afirma Benedito Maciel, superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e um dos idealizadores da pesquisa, realizada em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde.
A estimativa do estudo se baseia na análise de amostras de sangue e de secreção nasal de 700 moradores, coletadas em todos os bairros do município nos três primeiros dias de maio. O trabalho de campo contou com a colaboração de estudantes do quinto e sexto anos do curso de medicina. A seleção dos participantes foi feita por pesquisadores do Departamento de Medicina Social a partir de critérios censitários, de modo a obter uma amostragem representativa da população ribeirão-pretana.
O material coletado foi analisado por testes moleculares (do tipo RT-PCR, que identifica o material genético do SARS-CoV-2 durante a fase aguda da infecção) e também por testes rápidos capazes de detectar anticorpos contra o vírus, geralmente 10 dias após o contágio.
“Apenas 10 amostras apresentaram resultado positivo no teste sorológico e só uma no teste molecular. A equipe voltou à residência desse participante que testou positivo no RT-PCR [e, portanto, ainda estava com o vírus no organismo] para avaliar outros quatro moradores da casa. Três deles estavam infectados”, conta Rodrigo Calado, professor do Departamento de Imagens Médicas, Hematologia e Oncologia Clínica da FMRP-USP e colaborador do projeto. “Nesse núcleo foi possível isolar as pessoas contaminadas e impedir que o vírus se espalhasse. É uma medida de vigilância ativa importante.”
De acordo com Calado, todas as amostras positivas são de pessoas entre 20 e 50 anos, que não integram a faixa etária de maior risco para COVID-19. Nenhuma delas chegou a ser internada e somente uma parte apresentou sintomas gripais na fase aguda.
Na avaliação do pesquisador, a baixa taxa de contágio mostra que a quarentena – iniciada em 20 de março – tem conseguido conter a disseminação da COVID-19 em Ribeirão Preto. “Por enquanto a situação nos hospitais locais está relativamente sob controle. Monitorar como evoluem esses números é importante para planejar os próximos passos – seja em relação à ampliação da infraestrutura de saúde, à manutenção ou relaxamento da quarentena ou à necessidade de adotar outras medidas de proteção, como o uso de máscaras, por exemplo”, afirma.
Com esse objetivo, a equipe do projeto planeja uma nova rodada de coleta em meados de junho. Todos os participantes que testaram negativo na primeira análise serão visitados novamente pelos estudantes de medicina. “Queremos ver como a taxa de contágio muda após um intervalo de seis semanas para ter uma ideia de como está a dinâmica da COVID-19 na cidade”, explica Calado, que integra a equipe do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na FMRP-USP.
O mais importante nesse tipo de iniciativa, afirma o pesquisador, é procurar os participantes infectados e seus contatos próximos para oferecer atendimento médico adequado e, ao mesmo tempo, interromper a transmissão. “Foi criado um ambulatório para pacientes convalescentes. Vamos acompanhá-los para observar possíveis consequências da infecção no longo prazo”, diz Calado.
Segundo Maciel, a equipe do projeto cogita fazer novas ondas de coleta e até mesmo testar pessoas em outras cidades da região. “O problema é que, infelizmente, os testes rápidos são caros, cada um custa entre R$ 120 e R$ 150. E isso inviabiliza a ampliação do projeto”, diz.
O superintendente do HC conta que os testes rápidos usados na primeira etapa de coleta foram fornecidos pela Prefeitura, que recebeu do Ministério da Saúde. Também foram usadas verbas do Hospital das Clínicas, do Hemocentro de Ribeirão Preto e de doações para o custeio da pesquisa.
“Pesquisadores da USP estão desenvolvendo um teste sorológico do tipo ELISA [ensaio de imunoabsorção enzimática, na sigla em inglês, que precisa ser feito em laboratório], o que tornaria a testagem mais acessível”, afirma Maciel.
O Comitê Técnico da pesquisa inclui pesquisadores do Departamento de Medicina Social, Clínica Médica e médicos assistentes do Hospital das Clínicas. Até o dia 12 de maio, 431 casos de COVID-19 e 11 óbitos haviam sido confirmados em Ribeirão Preto.
=> Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
Tags
- Ver também
Vídeo -Laboratórios de pesquisa se adaptam para fazer diagnósticos de coronavírus
- Direto da mídia
Arquivo
- November 2023
- October 2023
- February 2023
- January 2023
- December 2022
- October 2022
- August 2022
- June 2022
- May 2022
- March 2022
- February 2022
- January 2022
- November 2021
- October 2021
- September 2021
- August 2021
- July 2021
- June 2021
- May 2021
- April 2021
- March 2021
- February 2021
- January 2021
- November 2020
- October 2020
- September 2020
- August 2020
- July 2020
- June 2020
- May 2020
- April 2020
- March 2020
- February 2020
- January 2020
- December 2019
- November 2019
- October 2019
- September 2019
- August 2019
- July 2019
- June 2019
- May 2019
- April 2019
- March 2019
- February 2019
- January 2019
- December 2018
- September 2018
- July 2018
- June 2018
- May 2018
- April 2018
- March 2018
- February 2018
- January 2018
- December 2017
- November 2017
- October 2017
- September 2017
- August 2017
- July 2017
- June 2017
- May 2017
- April 2017
- March 2017
- February 2017
- December 2016
- October 2016
- October 1946