Nos países desenvolvidos, dinheiro que financia ciência na universidade é público

Este é o título de uma esclarecedora matéria sobre o papel dos recursos públicos no financiamento de pesquisa e desenvolvimento publicada na edição do Jornal da USP da última sexta feira (24). O artigo conta com diversos depoimentos de experientes professores e pesquisadores, unânimes na afirmativa de que, sem uma participação majoritária de recursos públicos, programas de pesquisa e desenvolvimento se tornam inviáveis. Segundo a reportagem, os recursos públicos comparecem com 60% do financiamento de pesquisa nas universidades americanas e 77% nas europeias.

“Eventuais mensalidades não chegariam a 8% do orçamento”

Por outro lado, como afirma o reitor da USP, mensalidades eventualmente pagas por alunos participariam com uma parte insignificante do orçamento:

O reitor da USP Vahan Agopyan afirmou que estudos já feitos na instituição mostram que o dinheiro vindo de eventuais mensalidades não chegariam a 8% do orçamento. “Uma universidade de pesquisa é cara”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Para Mauro Bertotti, professor do Instituto de Química da USP, “essas instituições requerem vultosos recursos para cumprir suas funções, pois elas geralmente mantêm hospitais universitários e museus, executam numerosos serviços de extensão, formam a elite dos professores do País e nelas são desenvolvidas pesquisas que dependem de insumos e equipamentos sofisticados.” Assim, o ensino básico não pode ser comparado com ensino superior. “A amplitude das ações desenvolvidas em uma universidade pública é infinitamente maior do que a das praticadas na escola básica, restritas ao ensino, e isso explica por que o cálculo total de recursos por aluno é uma falácia”, afirmou em artigo no Jornal da USP.

Harvard, Yale e Stanford não valem como exemplo

As universidades de Harvard, Yale e Stanford, frequentemente citadas como exemplos de universidades privadas de ponta, não podem ser tomadas como exemplo por serem muito pequenas e com finalidades muito específicas. Enquanto Harvard, por exemplo, tem 6.700 alunos na graduação, a USP tem 50.000:

Otaviano Helene, professor do Instituto de Física (IF) da USP que há vários anos acompanha as políticas universitárias pelo mundo, diz ser impossível para as maiores universidades financiar o grosso do seu orçamento com mensalidades, fundos de endowment e outros recursos privados, como fazem algumas poucas e pequenas instituições nos Estados Unidos, como Harvard, que tem 6.700 alunos na graduação – a USP tem 59 mil. “As pessoas acham que Harvard pode servir de modelo, mas Harvard é uma exceção, mesmo dentro dos Estados Unidos. É uma universidade pequena e privada, as grandes universidades públicas americanas têm centenas de milhares de alunos. Assim como Yale, Stanford e Universidade da Pensilvânia, no nordeste americano, todas pequenas, privadas e com finalidades muito específicas. Aqui parece que queremos imitar as exceções.” Ele chama a atenção também para a relevância da educação superior mantida pelo governo naquele país: de acordo com dados de 2016 da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), 73% dos estudantes de nível superior norte-americanos estão matriculados em universidades públicas.

Veja a matéria na íntegra: Nos países desenvolvidos, o dinheiro que financia a ciência na universidade é público (Jornal da USP)

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