Narizinho de Monteiro Lobato fez cem anos e Biblioteca Brasiliana da USP celebra com exposição virtual

Leia no original a primeira edição

De acordo com a Wikipedia,

Em 1920, Monteiro Lobato publicou "A menina do Narizinho Arrebitado", o primeiro livro infantil do Brasil, lançado em plena época de Natal e tornando-se um fenômeno editorial. Nesse livro surgiram Narizinho, Emília, Dona Benta e Tia Nastácia, que foram mais tarde reaproveitadas em Reinações de Narizinho de 1931, que era uma versão ampliada de A Menina do Narizinho Arrebitado e de muitos outros livros infantis escritos por Lobato na década de 20, algumas delas escritas no período em que morou em Nova Iorque. Em 1933, surgiu Novas Reinações de Narizinho, contando novas travessuras da protagonista no Sítio do Picapau Amarelo. Nos anos 40, Reinações de Narizinho e Novas reinações de Narizinho foram juntados em um único livro, sendo este o primeiro volume infantil das obras completas de Monteiro Lobato.

Agora, para celebrar os cem anos da criação de Narizinho, a Biblioteca Brasiliana da USP está promovendo a exposição virtual Uma menina centenária – 100 anos de Narizinho Arrebitado:

A exposição apresenta, em imagens e textos, a trajetória do escritor, o nascimento da personagem Narizinho e outras informações e curiosidades. O site é rico em fotos, cartas de crianças leitoras, ilustrações do cartunista Voltolino e imagens de livros que compõem a história pessoal e profissional de Monteiro Lobato. Uma seção específica é dedicada a discutir a respeito das acusações de racismo que o autor vem sofrendo em tempos recentes.

Além de dados históricos sobre o autor e sua obra dedicada ao público infanto-juvenil, e também à valorização da cultura e mitologia brasileiras, é ainda possível ser lida, no original, a primeira edição do "A menina do Narizinho Arrebitado". Ricamente ilustrado pelo desenhista Voltolino, o livro, de 43 páginas e impresso a 4 cores, foi publicado pela editora do autor, a Monteiro Lobato e Cia, nas vésperas do Natal de 1920.

Importante assinalar que a Biblioteca Brasiliana dispõe também para leitura virtual um vasto acervo de documentos e obras literárias voltadas principalmente para São Paulo e sua história.

Racismo?

O site da exposição dedica uma seção, "Lobato e o Racismo",  que pode ser vista como um desagravo ao alegado racismo do escritor surgido nos últimos anos, escrita pela pesquisadora Cilza Bignoto, do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Estas alegações, que se colocam como anti-racistas, se baseiam em geral em palavras e expressões que, se consideradas no contexto da  época, revelam intenção bem diversa de menosprezar alguém com base na cor da sua pele, o que seria uma postura racista. A posição da pesquisadora fica clara quando, por exemplo, aborda o fato de Lobato chamar Tia Anastácia de "negra de estimação", o que tem sido apontado como uma das "evidências" do seu racismo. Lembra ela que, nos dias em que Lobato viveu e escreveu, eram "reconhecidas como dignas e virtuosas as personagens negras que ou sacrificam a vida por alguém branco ou são mestiças de pele clara".

Aos negros costumeiramente não eram atribuídas maiores presenças nos textos literários da época, a não ser como coadjuvantes secundários e de menor importância, salvo condições excepcionais como as mencionadas, e via de regra apresentando virtudes tidas como dependentes ou mais próprias da branquitude. É identificado aí um problema que Monteiro Lobato teve que enfrentar ao adotar uma negra como protagonista de suas narrativas. Segundo a pesquisadora,

Nos últimos dez anos, trechos de livros infantis de Monteiro Lobato vêm sendo apontados ou denunciados como racistas, devido a passagens relacionadas, principalmente, à personagem Tia Nastácia. É o caso, por exemplo, da expressão “negra de estimação”, usada pelo narrador de Reinações de Narizinho para apresentar Tia Nastácia aos leitores. Como apresentar aos leitores Tia Nastácia, uma personagem negra que não apenas era muito visível, mas atuaria como protagonista? A situação era inédita em 1920. Podemos compreender por que, naquelas circunstâncias, Tia Nastácia foi introduzida como “negra de estimação”. Podemos, igualmente, imaginar por que o narrador insiste em se referir a ela como “boa negra”. Afinal, negros não costumavam ser naturalmente bons em histórias infantis; somente sacrifícios extremos por alguém branco os tornava moralmente dignos de apreciação.

Outra análises apontam ainda que Monteiro Lobato caracteriza a personagem de tia Nastácia como a de uma mulher capaz, trabalhadora e solidária, agindo inclusive em dupla com Dona Benta, a sua contraparte branca, na educação das crianças do sítio, passando a elas seu conhecimento popular principalmente relacionados a costumes e mitos brasileiros, enquanto a cargo de Dona Benta ficavam mais as questões relacionadas à cultura europeia. E ainda que, ao conhecer toda a sua obra, ao invés de pinçar manifestações específicas, fica claro ser impossível atribuir a ele a pecha de racista, muito pelo contrário. Ver por exemplo Monteiro Lobato/Wikipédia.

=> A Unicamp, também como desagravo, incluiu como leitura obrigatória outra obra do autor, o conto Negrinha, para o seus vestibulares. Ver vídeo a respeito anexo a este post.

=> Ver também matéria no Jornal da USP: Há cem anos nascia Narizinho, uma menina de nariz arrebitado

Unicamp e o "racismo" de Lobato (vídeo)

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