Apesar de intensa promoção publicitária no início da administração Doria na prefeitura de São Paulo, a tendência da atratividade para investimentos na cidade tem sido de queda.
Já no início de 2017, primeiro ano de sua curta passagem pela gestão do município, chamou a atenção um vídeo, claramente formatado para audiências no Exterior, uma vez que era em inglês e sem legendas (ver ao lado).
O material, destinado a ser mostrado em “road shows” lá fora, visava atrair investidores estrangeiros para os ambiciosos programas de privatizações promovidos pelo então prefeito. Para tanto, a cidade era apresentada como limpa e bem urbanizada, sediando um polo de negócios dinâmico e próspero, para onde convergiam bilionários em busca de novas oportunidades, procurando assim aproximá-la de uma imagem própria das metrópoles mais ricas e desenvolvidas do primeiro mundo.
A arquiteta Raquel Rolnik, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na época, se manifestou sobre o assunto em seu blog:
A imagem transmitida é a da São Paulo corporativa, meca do consumo e dos negócios, o lugar de moradia e circulação do 1% rico e poderoso. Não por acaso, no vídeo não aparecem negros e negras, não aparecem jovens, não aparecem ciclistas, grafites e pixações.
Apesar do esforço, no entanto, um índice de atratividade de investimentos reconhecido internacionalmente, e baseado exatamente nos atributos que o vídeo procura enaltecer, mostra que São Paulo na realidade vem sistematicamente perdendo posições.
São Paulo em queda no Índice Global de Centros Financeiros
Publicada no mês passado, a 26ª edição do Índice Global de Centros Financeiros (GFCI 26) mostra que São Paulo vem perdendo posições em termos de atratividade para investimentos em relação a outros cidades do mundo.
O Índice Global de Centros Financeiros (Global Financial Centres Index) é uma classificação mundial de atratividade para investir nos principais centros urbanos do mundo. Atualizado duas vezes por ano (março e setembro), desde 2007, é hoje calculado por duas entidades, o grupo Z/Yen, de Londres, ao qual em 2016 se associou o China Development Institute, que congrega representantes da academia, do empresariado, da sociedade civil e do governo, situado na cidade chinesa de Shenzhen. Segundo a Wikipedia, é amplamente reconhecido como referência para a avaliação de investimentos.
Os centros pesquisados aumentam regularmente. Na primeira rodada de 2007 eram 46, e nesta 26ª rodada já chegam a 104,
Metodologia
A metodologia de análise é baseada em uma articulação entre questionários online (3.360 respondents no GFCI26) e indicadores (“instrumental factors”) (134 instrumental factors no GFCI26). Os questionários são permanentemente disponibilizados na internet, e para cada edição são considerados os últimos 24 meses. Na sua elaboração são considerados os mais diversos aspectos com potencial de influenciar decisões de investimento, principalmente ambiente de negócios, impostos, capital humano, infraestrutura, reputação e grau de desenvolvimento do centro financeiro.
A seleção dos centros financeiros passa por dois estágios. Primeiro, eles são adicionados aos questionários quando contam com 5 ou mais menções como de potencial importância para os próximos 2 ou 3 anos nas respostas online. Segundo, eles só passam a constar nos resultados da pesquisa quando recebem mais de 150 avaliações de respondentes de outros centros nos últimos 24 meses.
Os “instrumental factors” são indicadores selecionados junto a instituições como o Banco Mundial, a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e a Economist Intelligence Unit, associada da revista The Economist.
Predominância do mundo financeiro europeu e asiático
Nesta última edição, o índice reflete basicamente avaliações feitas pelo mundo financeiro, com grande predomínio de bancos (36%) e agências de investimento (12%). Governo e agências reguladoras contribuem com somente 4%.
Por outro lado estão situados principalmente na Europa Ocidental (26%) e na região Asia/Pacífico (49%). A América do Norte aparece com 8%, e América Latina e Caribe com 2%.
Asia/Pacifico sobe, América Latina cai
O gráfico a seguir permite comparar a evolução do índice para 9 centros financeiros. Três tendências podem ser identificadas. Uma dominante, e com relativa estabilidade, de três centros tradicionais e desenvolvidos, Londres, Nova York e Hong Kong. Uma ascendente, de centros situados na região Asia/Pacifico, Pequim, Dubai e Sydney. Finalmente, a América Latina, em tendência de queda, São Paulo, Rio de Janeiro e Cidade do México. No caso da Cidade do México, no entanto, há uma recuperação a partir de março de 2018.
Gráfico interativo
Análises mais específicas dos nove centros mostrados acima podem ser feitas em gráfico interativo clicando aqui. O recurso permite isolar tendências para melhor compará-las.
- Ver também
Gráfico interativo – SP x Centros Financeiros Globais
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