Árvore genealógica da omicron

Virologista explica a evolução do coronavírus e por que mais variantes podem suceder a ômicron

Em entrevista à jornalista Luiza Caires, do Jornal da USP, o virologista Paulo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, afirma que a pandemia vai desaparecer, mas não em 2022, e que, se a covid-19 vai se tornar uma doença menos frequente, o sars-cov-2 nunca vai se extinguir. Com mais de 20 anos estudando os coronavírus e sua evolução, o pesquisador prevê que “podemos ter dias amargos ainda, mas certamente não é para sempre”, apontando as vacinas como fundamentais para a solução da crise. A seguir, alguns trechos da entrevista.

Extinção da delta e gama abriu espaço para o sucesso da ômicron

 Aos poucos, uma variante vai naturalmente suceder à outra. A própria ômicron original já vem sendo substituída por uma subvariante dela mesma, a BA.2, que os primeiros estudos indicam se transmitir com mais facilidade. 

É a velha seleção natural de Darwin em ação, mesmo num agente tão pequeno quanto um vírus: em um determinado momento, a versão vigente é levada à extinção, como aconteceu com a delta e a gama, e aquelas que têm determinadas variações ganham sua vez.

Localização nas vias superiores e menor agressividade garantem maior propagação

Mas há outros pontos que favorecem a disseminação desta variante. Um vírus respiratório que se replique melhor em trato respiratório superior (nariz e garganta), e não tanto no pulmão, está em vantagem, porque assim consegue acesso mais fácil ao meio externo. Há indícios de que este seja o caso da ômicron.

Uma outra via para um vírus do tipo aumentar sua transmissibilidade é causar menos sintomas e infecções graves. Afinal, uma pessoa assintomática não vai suspeitar de estar infectada e irá continuar transmitindo.

[Essa variante] não quer me matar, quer me usar para transmitir para outra pessoa. Pode até matar, mas desde que dê tempo de se transmitir. Isso foi o que aconteceu com os outros clássicos coronavírus humanos, os quatro que conhecemos e que causam resfriado.”

Outros coronavírus

E quem são estes outros coronavírus? “Antes do sars-cov-1, em 2002, a gente conhecia quatro coronavírus humanos: OC-43, 229E, HKU1 e NL63. O que eles causam em termos de doenças? Basicamente nada.”

Vale também resgatar um pouco do que conhecemos da história do OC-43, bastante ilustrativa. Sabemos que ele se originou do coronavírus de bovinos. Podemos inferir, por estudos moleculares, que ele veio para humanos na segunda metade do século 19. […] Pode ser que lá no século 19 tenha havido uma pandemia por esse coronavírus novo como estamos vendo agora, mas com o passar das décadas, houve essa atenuação. E hoje a gente tem uma relação amigável com ele. Ele se dá bem com a gente porque nós o transmitimos, e é isso que ele quer. Colocando-o em perspectiva com o sars-cov-2, a gente imagina que isso possa acontecer. Mas talvez a ômicron não seja ainda a evidência disso”, reforça.

“Não é possível afirmar que a ômicron seja a variante da transição para uma situação de calmaria”

Conhecendo toda a história da variação molecular nos outros coronavírus, é absolutamente possível que haja outras variantes, talvez só esperando o momento que a ômicron leve a uma imunidade tão grande a ela mesma que entre em extinção e elas assumam. O pesquisador lembra que a evolução não para. “Os vírus com outras mutações podem já estar aí, só esperando um momento mais favorável. Isso é um conceito importante. Você sempre tem vírus pré-selecionados em uma população de coronavírus, que podem ganhar a chance de escalar o pico do sucesso.”

Forma crônica não pode ser subavaliada

[…] Por fim, ele aponta o erro de não considerar a forma crônica da doença. “A forma crônica pode vir a se apresentar de modo terrível, com grandes incapacitações.”

A ômicron foi reportada há um pouco mais de dois meses, então só conhecemos sua forma aguda. “Não sabemos como ela se comporta em um paciente três ou quatro meses depois da alta, e que pode ter problemas neurológicos, renais, hepáticos, de coagulação”, adverte.

Sem vacinação número de mortes será muito maior

Para atingirmos uma imunidade populacional semelhante para o sars-cov-2, há duas vias. A primeira é contar só com a imunidade natural, que pode levar à morte ainda muita gente (a pandemia de gripe em 1918 levou a pelo menos 50 milhões de mortes). E a segunda é prosseguir com a vacinação, que treina nosso sistema imune, e é infinitamente mais humanitária do que esperar várias mortes.


Os outros coronavírus escondidos debaixo do nosso nariz (Veja/Saúde 20/10/2021)

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Ver entrevista na íntegra => Evolução viral: ômicron escalou o “pico do sucesso”, mas pode perder o trono em breve (Jornal da USP 03/02/2022)