Já existe um Instituto Pasteur em São Paulo, fundado em 1903 e independente do seu homônimo francês, que tem mais de cem anos dedicados principalmente ao combate à raiva.
O Instituto Pasteur de São Paulo
“Incrustado na sofisticada avenida Paulista, centro financeiro do mais pujante estado da federação, encontra-se o Instituto Pasteur de São Paulo, instituição centenária, hoje vinculada à Secretaria de Saúde do estado e dedicada à pesquisa, ao tratamento e ao controle da raiva.”
Com esta introdução, cientistas do Instituto Pasteur de São Paulo e da Fundação Oswaldo Cruz iniciaram em dezembro de 2004 artigo celebrando os cem anos da instituição.
Criado em 1903 como uma instituição privada e filantrópica, o Instituto passou por diversas fases, passando ao governo do estado em 1916. Hoje está vinculado à Secretaria da Saúde de SP.
Com o sucesso da vacina antirrábica introduzida por Louis Pasteur em 1885, diversos institutos com seu nome foram instalados no mundo com o objetivo primário de oferecer assistência preventiva a quem estivesse ameaçado pela doença, originada sobretudo por ataques de cães. Entre estes, alguns foram fundados no Brasil, todos independentes do instituto francês. Além de São Paulo, foram sediados no Rio de Janeiro, Pernambuco e Sta. Catarina. O do Rio, inclusive, foi inaugurado antes do francês, em 1888. Sobre estas iniciativas, ver “Microbiologia, raiva e Institutos Pasteur no Brasil“ do pesquisador Luiz Antônio Teixeira.
Ao contrário dos demais institutos brasileiros, que focaram principalmente o enfretamento clínico da raiva, o instituto paulista também desenvolveu atividades de ensino e pesquisa que permanecem até hoje, contando inclusive com uma biblioteca pública com cerca de 10.000 volumes. Além da raiva, o acervo engloba também aspectos de Imunologia, Virologia, Biologia Molecular, Genética, Epidemiologia, Saúde Pública, Zoonoses, Saúde Pública e Administração, Políticas e Programas em Saúde, e está sendo cadastrado no portal BVS RIC da SES-SP. Para acessá-lo, clique aqui.
O Instituto Pasteur francês
Em 1885, uma criança de 9 anos, mordida por um cachorro, tomou a primeira vacina antirrábica em um gesto extremamente ousado de Louis Pasteur. O risco era certamente alto, uma vez que o tratamento, na realidade consistindo de uma série de inoculações, só havia sido testado em animais. Mas a morte certa, que seria inevitável após as primeiras manifestações da doença, justificou o risco. E o resultado foi que a raiva não se manifestou, salvando a criança de extremo sofrimento.
O sucesso assim foi total e, três meses depois, ele voltava a vacinar, com êxito, outra criança mordida por cão raivoso. Estava assim fundado o tratamento preventivo da raiva.
A descoberta trouxe consagração definitiva aos trabalhos de Pasteur, já famoso por suas contribuições em diversos ramos da microbiologia, com destaque para a técnica de pasteurização, e propiciou a criação, em 1888, na cidade de Paris, do Instituto Pasteur, que se tornou um dos mais importantes centros mundiais de pesquisa científica em doenças infecciosas.
Criado como uma fundação privada, sem fins lucrativos, contou com o apoio financeiro de personalidades ilustres, entre as quais o imperador Dom Pedro II, ao lado do czar Alexandre III da Rússia e o barão Alphonse de Rothschild. Voltado para pesquisas na área de doenças infecciosas, ofereceu treinamento para diversos cientistas brasileiros, entre os quais Oswaldo Cruz. Como o instituto paulista, inicialmente se concentrou no combate à raiva, mas hoje contribui para o combate a doenças infecciosas em geral, inclusive a covid19.
A unidade paulista do Instituto Pasteur francês
Um convênio recentemente assinado entre a FAPESP, a USP e o governo do estado, está lançando mais uma unidade do instituto francês em dependências da USP, com o que totalizará 33 unidades no mundo. A iniciativa não tem qualquer relação com o instituto já existente em São Paulo.
A Plataforma Científica Pasteur-USP
Uma colaboração que se iniciou há dez anos entre a USP e o Instituto Pasteur da França se intensificou há três anos com a formação de uma plataforma de pesquisas com laboratórios funcionando em colaboração com a USP instalados em dependências da universidade.
De acordo com a Agência FAPESP, “Instalada na USP há três anos, a SPPU [Scientific Plataform Pasteur USP] abriga pesquisas voltadas a desenvolver diagnósticos, tratamentos e vacinas contra doenças infecciosas emergentes e negligenciadas, transmitidas por patógenos que causam respostas imunes complexas e que produzam distúrbios no sistema nervoso, como os vírus zika e SARS-CoV-2“.
Doenças negligenciadas
Cabe aqui uma nota sobre as chamadas doenças negligenciadas. De acordo com a Médico sem Fronteiras,
São doenças tratáveis e curáveis que afetam, principalmente, populações com poucos recursos financeiros que, justamente por isso, não despertam o interesse da indústria farmacêutica. Os métodos de tratamento e diagnóstico dessas doenças são antigos e inadequados e demandam investimento em pesquisa e desenvolvimento para se tornarem mais simples e efetivos. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde classifica 17 enfermidades como doenças negligenciadas. Entre elas estão: calazar, doença do sono, dengue, esquistossomose, tarcoma, doença de Chagas, etc. A população pode contribuir com a disseminação de informações, engrossando o coro liderado por organizações não governamentais a favor do investimento em pesquisa e desenvolvimento voltados para essas doenças. Além disso, é possível engajar-se com a causa acompanhando o desenrolar de políticas públicas, pressionando agências internacionais e governos a agirem. https://www.msf.org.br/noticias/o-assunto-e-doencas-negligenciadas/
A atenção sobre doenças negligenciadas ganhou corpo nos últimos anos em virtude da propagação da covid-19 graças à carência de prevenção e vacinação na África e, mais recentemente, da varíola dos macacos, que já é presente na África há anos sem o devido enfrentamento, o que acabou por gerar sua difusão agora em diversos países, com destaque para os EUA.
A unidade paulista do Instituto Pasteur francês
No início do mês de julho deste ano foi estabelecido um novo acordo envolvendo o Instituto, a USP, e o governo de São Paulo, que deverá levar a uma nova unidade com sede em SP nos próximos seis meses a um ano, o que permitirá interagir com as outras 33 unidades do Instituto em diferentes países.
Com isto, de acordo com os pesquisadores envolvidos, se estabelecerá uma complementaridade norte-sul importante, permitindo a troca de dados e experiências adquiridos em linhas de pesquisa em doenças tropicais e outras mais características do sul, com outras desenvolvidas em países do norte em outros campos.
Além da unidade a ser implementada em São Paulo também está sendo considerada outra em Fortaleza como desdobramento de convênios também já existentes entre o Instituto e a FioCruz.
Outra vertente importante dos entendimentos será o recrutamento de jovens visando formar uma nova geração de pesquisadores como consta em edital internacional promovido pela FAPESP. A ideia é atrair pessoas do mundo todo para vir trabalhar aqui.
Maiores informações
Mais informações podem ser encontradas nas matérias “Acordo permitirá instalação de unidade do Instituto Pasteur em São Paulo“, “USP assina acordo para implantação de uma unidade do Instituto Pasteur em São Paulo” e “No Instituto Pasteur“, publicadas respectivamente pela Agência FAPESP, pelo Jornal da USP, e pela FioCruz.
Ver ainda vídeo em anexo “USP, governo de SP e rede Pasteur firmam acordo para a implantação do Instituto Pasteur em São Paulo”
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